Chamada para publicação ed. 41 (1/2024) - DOSSIÊ: Infinitos Abris: representações e diálogos do 25 de Abril na Literatura, no Cinema e nas outras artes.

Prazo para submissão: até 30 de março de 2024

Infinitos Abris: representações e diálogos do 25 de Abril na Literatura, no Cinema e nas outras artes.

No incontornável O Labirinto da Saudade: psicanálise mítica do destino português (1978), Eduardo Lourenço detalha a importância da imagem (no sentido da Imagologia) do Império Ultramarino para a cultura portuguesa, apontando a Revolução dos Cravos como o momento em que essa mesma imagem, que já era um fantasma, tornou-se impossível, obrigando o país a se reinventar, buscando suas referências numa Europa de certo modo estilizada e também ela ao menos parcialmente imaginária.

Em A Canon of Empty Fathers: paternity in Portuguese narrative (2007), Phillip Rothwell, ao historicizar a figura lacaniana do “pai vazio” e sua representação na literatura portuguesa, diz que a obra de António Lobo Antunes representa exatamente a situação do pai vazio “entre duas mortes”, entre os últimos anos do salazarismo, que sobrevive inclusive ao próprio Salazar, ainda que por pouco tempo, e seu fim oficial. Ele prossegue analisando a obra de Helder Macedo, a qual, segundo o pesquisador britânico, aponta acuradamente para a necessidade de eterna renegociação e de permanente incerteza da(s) nova(s) identidade(s) cultural(is) lusitanas.

O propósito desta edição é conclamar autores a retomar os múltiplos significados do 25 de Abril de 1974 em Portugal e em outros países, cinquenta anos depois. Para além de toda a mitografia eufórica que à volta deste dia “inicial, inteiro e limpo” (Sophia de Mello Breyner Andresen) se foi construindo  - desde a iconografia das massas populares lisboetas (A Poesia está na rua do célebre quadro de Vieira da Silva até às imagens da festa (“foi bonita a festa, pá!” de Tanto Mar de Chico Buarque), seria interessante explorar os lados claroescuros e inomináveis duma Revolução das múltiplas temporalidades envolvidas (fim do Estado Novo, fim do colonialismo, democratização em moldes europeus, etc)

Não se trata apenas da repercussão do evento, mas também dos seus ecos simbólicos, do percurso traçado nessas cinco décadas, das novas configurações das relações de poder, enfim: do impacto imediato até seus diálogos com a contemporaneidade.

Referências:

LOURENÇO, Eduardo. O Labirinto da Saudade: psicanálise mítica do destino português. 3. ed. Lisboa: Círculo de Leitores, 1998.

ROTHWELL, Phillip. A canon of empty fathers : paternity in Portuguese narrative. Lewisburg: Bucknell University Press, 2007.