Resumo
As condutas sociais da atualidade estão permeadas por relações de poder, cujas raízes se estendem no tempo. Frente a essa realidade, a ficção surge como "ato transgressor" (Iser, 1999), que pode estimular reconfigurações de papéis sociais. Sob essa perspectiva, o presente artigo analisa o processo estético de estruturação das canções "Mulheres de Atenas" e "Com açúcar, com afeto", de Chico Buarque, congregando-o à compreensão do momento da recepção do texto e do horizonte histórico de sua produção. O estudo — que considera, em especial, os pressupostos da Estética da Recepção (Jauss, 1983) — aponta que, em sua urdidura, as composições de Chico preveem um leitor ativo, atento aos não ditos (Eco, 1986) e às referências contextuais (Cortina, 2000) e, portanto, capaz de apreender a crítica sociocultural que emerge dos interstícios da enunciação lírica. Assim, transposta a camada superficial, os textos configuram-se como uma provocação séria e profunda à análise das condutas femininas e masculinas, tanto da sociedade brasileira da época de sua produção, quanto do período contemporâneo.

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2019 Tatiane Kaspari, Juracy Assmann Saraiva