Resumo
Este artigo trata de um estudo acerca do conceito de escrevivência como episteme engendrada na cosmogonia dos orixás. A partir de tal consideração, objetivamos analisar um conto da escritora Cristiane Sobral intitulado Das águas, no qual a autora empreende as experiências vividas pela personagem Omi em espaço de poder. Para entender como a auto-apresentação da mulher negra e a autoafirmação da personagem ocorrem no objeto literário, atinamos para o modo de composição da autora encabeçado na conexão ancestral/espiritual com a divindade Osún. Dessa maneira, a partir de pressupostos teóricos de Evaristo (2005, 2009, 2020), Verger (2002), Munanga (2020), Carneiro e Cury (2008), Sales (2020), Silva (2018), dentre outros, concluímos que a autoafirmação do "sujeito-mulher-negra" na literatura flui da conjunção histórica e social particular às mulheres negras e promove a edificação de uma sabedoria coletiva.
Referências
CARNEIRO, Sueli; CURY, Cristian. O poder feminino no culto aos orixás, guerreiras de natureza: mulher negra, religiosidade e ambiente. São Paulo: Selo Negro, 2008.
DALCASTAGNÈ, Regina. Literatura brasileira contemporânea: um território contestado. Vinhedo: Editora Horizonte, 2012.
EVARISTO, Conceição. Da representação a auto-representação da mulher negra na literatura brasileira. Revista Palmares: cultura afro-brasileira, Brasília, ano 1, n. 1, ago. 2005.
EVARISTO, Conceição. Literatura negra: uma poética de nossa afro-brasilidade. Revista Scripta, Belo Horizonte, v. 13, n. 25, 17-31, sem. 2009. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/scripta/article/view/4365. Acesso em: 12 jan 2022.
EVARISTO, Conceição. A escrevivência e seus subtextos. In: DUARTE, Constância;
GILROY, Paul. O atlântico negro: modernidade e dupla consciência. Rio de Janeiro: Universidade Cândido Mendes, Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2001.
IANNI, Octavio. Literatura e consciência. Revista Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, v. 28, 91-99, 1988.
KILOMBA, Grada. Memórias de plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro, Cobogó, 2019.
LOPES, Nei. Enciclopédia brasileira da diáspora africana. São Paulo: Selo Negro, 2011.
MUNANGA, Kabengele. Negritude: usos e sentidos. Belo Horizonte: Autêntica, 2020.
SALES, Cristian. Escritoras negras diaspóricas: saberes ancestrais femininos em poéticas das águas. Revista Ciências Humanas, CAETÉ, v. 2, n. 3, 1-20. 2020. Disponível em: https://www.seer.ufal.br/index.php/revistadecienciashumanascaete/article/view/11588. Acesso em: 20 jan 2021.
SANTOS, Henrique. Reflexão sobre o conceito de literatura-terreiro. Revista Inventario. 14. ed. – jan./jun. 2014. Disponível em: http://www.inventario.ufba.br/14/Entrevista_Henrique.pdf. Acesso em: 12 dez 2021.
SILVA, Assunção. EscreVivência: itinerários de vidas e de palavras. In: DUARTE, Constância; NUNES, Isabelly. Escrevivências, a escrita de nós: reflexões sobre a obra de Conceição Evaristo. 1. ed. Rio de Janeiro: Mina Comunicação e Arte, 2020. p. 114-133.
SILVA, Franciane. Corpos dilacerados: a violência em contos de escritoras africanas e afro-brasileiras. 2018. Tese (Mestrado em Letras) Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2018. Disponível em: http://www.biblioteca.pucminas.br/teses/Letras_SilvaFC_1.pdf. Acesso em: 04 dez. 2021.
SOBRAL, Cristiane. Das águas. In: AMARO, Vagner. Olhos de azeviche: dez escritoras
negras que estão renovando a literatura brasileira. São Paulo: Malê, 2017. p. 49-52.
SOUZA, Elio. A carta da escrava Esperança Garcia do Piauí: uma narrativa precursora da literatura afro-brasileira. Belo Horizonte: literafro/UFMG, 2021.
VERGÈS, Françoise. Um feminismo decolonial. Tradução Jamille Pinheiro Dias e Raquel Camargo. São Paulo: Ubu Editora, 2020.
VERGER, Pierre. Lenda africana dos Orixás. Tradução Maria Aparecida da Nóbrega. Salvador: Corrupio, 1997.
VERGER. Pierre. Orixás: deuses iorubás na África e no Novo Mundo. Tradução Maria Aparecida da Nóbrega. Salvador: Corrupio, 2002.
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2022 Maria do Carmo Moreira de Carvalho, Elio Ferreira de Souza