Resumo
Os deslocamentos pelas fronteiras identitárias impostas na modernidade ocidental configuram as principais questões da contemporaneidade, sejam essas fronteiras as de nacionalidade, de raça, de gênero ou de eficiência e capacidade. Nesse sentido, o romance Luanda, Lisboa, Paraíso, publicado em 2018 pela escritora angolana/portuguesa Djaimilia Pereira de Almeida, é bastante elucidativo. Os personagens Cartola e Aquiles migram de Angola para Portugal em razão de uma má-formação no calcanhar do último. Assim, o corpo negro e com deficiência desafia a corponormatividade moderna, tornando--se indesejado na ex-metrópole, e por isso vítima de racismo e capacitismo. Amparado teoricamente nos estudos da deficiência e nos estudos pós-coloniais, este trabalho se propõe a analisar o corpo do personagem Aquiles em seu deslocamento, entendendo este como de fundamental importância para a compreensão das condições de mobilidade e imobilidade imposta aos sujeitos colonizados.
Referências
ALMEIDA, Djaimilia Pereira de. Luanda, Lisboa, Paraíso. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
ARBEX, Daniela. Holocausto brasileiro. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2019.
BHABHA, Homi K. O local da cultura. Tradução Myriam Ávila, Eliana Reis e Gláucia Gonçalves. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013.
DINIZ, Debora. O que é deficiência? São Paulo: Brasiliense, 2007.
FANON, Frantz. Medicina y colonialismo. In: FANON, Franz. Sociología de una revolución. Tradução Víctor Olea. Ciudad de México: Ediciones Era, 1976. p. 97-119.
GESSER, Marivete; MELLO, Anahi Guedes. Politizar a deficiência, produzir aleijamentos desde o Sul Global. Psicología para América Latina, São Paulo, n. 36, p. 129-138, 2021.
MCRUER, Robert. Crip theory: cultural signs of queerness and disability. New York: New York University Press, 2006.
MELLO, Anahi Guedes de. Deficiência, incapacidade e vulnerabilidade: do capacitismo ou a preeminência capacitista e biomédica do Comitê de Ética em Pesquisa da UFSC. Revista Ciência e Saúde Coletiva, Manguinhos, n. 21, v.10, p. 3265-3276, out. 2016. Doi: https://doi.org/10.1590/1413-812320152110.07792016
QUIJANO, Aníbal. Colonialidad del poder y clasificación social. Journal of World-System Research, Riverside, v 2, p. 342-386, 2000.
SANTOS, Boaventura de Sousa. O colonialismo e o século XXI. Outras Palavras, São Paulo, 15 jan. 2019. Disponível em: https://outraspalavras.net/geopoliticaeguerra/boaventura-o-colonialismo-e-o-seculo-xxi/. Acesso em: 2023.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências. In.: SANTOS, Boaventura de Sousa. A gramática do tempo: para uma nova cultura política. São Paulo: Cortez, 2010. p. 93-135.
SCHEFFER, Edith. Crianças de Asperger: as origens do autismo na Viena nazista. Tradução Alessandra Bonrruquer. Rio de Janeiro: Record, 2019.
WENDELL, Susan. The rejected body: feminist philosophical reflections on disability. New York: Routledge, 1996.

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2024 Gustavo Henrique Rückert