Resumo
A leitura desdobra, no romance Jesusalém – de Mia Couto – não apenas os pressupostos do seu título, mas também os dos títulos das suas versões brasileira e inglesa. Parte, quer da ambivalente significação do advérbio “além” – ali associado ao nome de “Jesus” – quer do jogo paronomástico com “Jerusalém” – cidade ética, política e religiosamente pensada por Emmanuel Lévinas, em Au-delà du verset. Sublinha, assim, o que o “além” implica, de uma certa crítica do cristianismo e acompanha, na personagem de Silvestre Vitalício, quer o processo do seu exílio da cidade e da sua loucura, quer a sua melancólica sobrevivência à morte de sua esposa, Dona Dordalma. Na escrita de Mwanito – autor ficcional do romance – observa a sua compatibilidade, quer com o conceito desconstrutivo de “escrita em geral”, de Jacques Derrida, quer com o conceito de imagem, segundo E. Lévinas, ambos a suporem uma obliteração do “ser” como presença plena.
Referências
AA.VV. Bíblia Sagrada: versão dos textos originais. 8. ed. Lisboa: Difusora Bíblica (Missionários Capuchinhos), 1978.
BUTLER, Judith. Vida Precária, Vida passível de luto. In: BUTLER, Judith. Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto? 5. ed. Tradução Sérgio Lamarão e Arnaldo Marques da Cunha. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018. p. 13-55.
COUTO, Mia. Antes de nascer o mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
COUTO, Mia. Jesusalém. 13. ed. Lisboa: Caminho, 2021.
COUTO, Mia. Quebrar armadilhas. In: COUTO, Mia. E se Obama fosse africano? e outras interinvenções. 2. ed. Lisboa: Caminho, 2009. p. 101-112.
COUTO, Mia. The tuner of silences. Ontario: Biblioasis, 2012.
CRAVEIRINHA, José. O mulato era alvo de uma depreciação dos dois lados. In: LABAN, Michel. Moçambique: encontros com escritores. Porto: Fundação Eng. António de Almeida, 1993.v. 1.
DERRIDA, Jacques. Avant-propos. In: DERRIDA, Jacques. Chaque fois la fin du monde. Paris: Galilée, 2003c. p. 9-11.
DERRIDA, Jacques. La différance. In: DERRIDA, Jacques. Marges – de la philosophie. Paris: Minuit, 1972a. p. 1-29.
DERRIDA, Jacques. La violence de la lettre: de Lévi-Strauss à Rousseau. In: DERRIDA, Jacques. De la grammatologie. Paris: Minuit, 1967. p. 145-196.
DERRIDA, Jacques. Parergon. In: DERRIDA, Jacques. La vérité en peinture. Paris: Flammarion, 1978. p. 19-168.
DERRIDA, Jacques. Racism’s last word. In: DERRIDA, Jacques. Psyché: inventions of the other. Tradução Peggy Kamuf e Elizabeth Rottenberg. Carlifornia: Stanford UP, 2007. v. 1, p. 377-386.
DERRIDA, Jacques. Signe événement contexte. In: DERRIDA, Jacques. Marges – de la philosophie. Paris: Minuit, 1972b. p. 365-393.
DERRIDA, Jacques. Survivre. In: DERRIDA, Jacques. Parages. Paris: Galilée, 2003a. p. 109-203.
DERRIDA, Jacques. Titre à préciser. In: DERRIDA, Jacques. Parages. Paris: Galilée, 2003b. 205-230.
GIL, José. A imagem-nua e as pequenas perceções: estética e metafenomenologia. Tradução Miguel Serras Pereira. Lisboa: Relógio d’Água, 2005.
HAYAT, Pierre. Du présent à ‘l’entretemps’. In: HAYAT, Pierre. La liberté investie: Lévinas. Paris: Éditions Kimé, 2014. p. 69-83.
LÉVINAS, Emmanuel. L’Hypostase. In: LÉVINAS, Emmanuel. De l’existence à l’éxistant. 2ième éd. Paris: Vrin, 2013. p. 107-146.
LÉVINAS, Emmanuel. La réalite et son ombre. In: LÉVINAS, Emmanuel. Les imprévus de l’histoire. Paris: Fata Morgana, 1994. p. 107-127.
LÉVINAS, Emmanuel. Le temps et l’autre. Paris: Puf, 1979.
LÉVINAS, Emmanuel. Les villes-refuges. In: LÉVINAS, Emmanuel. Au-delà du verset. Paris: Minuit, 1982. p. 51-70.
ROLLAND, Jacques. Le commerce avec l’obscur: lecture de La réalité et son ombre. In: ROLLAND, Jacques. Parcours de l’autrement. Paris: PUF, 2000. p. 233-259.
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2024 Jose Paulo de Lemos e Melo Cruz Pereira