Resumo
Este artigo realiza uma leitura da sociedade de consumo, à luz da crítica corsária de Pier Paolo Pasolini, tal como ela é retratada no romance A caverna (2000), de José Saramago. Partindo da noção de habitat, presente na “Arte poética I”, de Sophia de Mello Breyner Andresen, busca-se examinar a relação problemática entre o sujeito e o tempo histórico diante dos desdobramentos pós-Revolução dos Cravos, os quais subvertem a expectativa de reconstrução democrática e contrastam com o projeto de inteireza andreseniano. Os três intelectuais analisados neste trabalho identificam-se entre si quando notam a existência de uma nova forma de poder em curso na (pós-)modernidade, cujo exame pasoliniano na década de 1970 assinala como esse novo poder não se apoia, como o fascismo clássico, nas instituições Pátria, Família e Igreja, mas trata-se de uma ordem tão mais feroz pois, sob a máscara da tolerância, impõe o “hedonismo” e a “joie de vivre” (Pasolini, 2020), tal como se evidencia no romance finissecular de Saramago.
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