Resumo
Estudar tais encômios e lamentos poéticos e oratórios, cuja produção, quer em português, luso-castelhano ou neo-latim, motivou-se por fatos históricos, como o casamento e morte do príncipe D. João, filho de D. João III, é propor uma nova abordagem da história literária e do Renascimento português. Quando enfocada do ponto de vista histórico-cultural, a poesia quinhentista, como a oratória e a prática letrada em geral, mostra-se ato de fala cívico e civilizador, coadjuvante do poder monárquico, cuja performance pressupõe escrita e vocalidade regradas. A fala de saudação, a oração e a poesia aos príncipes circularam oralmente, pelo canto e/ou pela declamação, preservando-se, em diferença, na memória dos ouvintes e em cópias manuscritas ou impressas. As duas primeiras, que estudaremos num trabalho em separado, viram os prelos imediatamente, ao passo que a última, apenas no final do século XVI, em tempos filipinos, 40 anos após os eventos. A análise do código bibliográfico, nos impressos tardios da poesia renascentista em língua vulgar, da disposição da matéria no livro a didascálias, induz à leitura comparativa de tais atos poéticos e oratórios, ao revelar o seu uso demonstrativo de valores e padrões sociais. O objetivo é aproximar a história dos pais de D. Sebastião da institucionalização de algumas práticas letradas renascentistas em Portugal, especialmente da poesia italianista. A partir da comparação de tópicas, presentes tanto na nova poesia como em gêneros pragmáticos diversos das letras ibéricas, e ciente de a emulação de modelos antigos ser não só o processo renascentista de escrever textos fictícios, mas também o de produzir conhecimento, este estudo, a fim de surpreender a mentalidade quinhentista portuguesa, confere à poesia dimensão pragmática e documental.Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2016 Marcia Arruda Franco