Transfusões linguísticas: o percurso plagiotrópico na transcriação das duas cenas finais de Fausto II, por Haroldo de Campos
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Palavras-chave

Haroldo de Campos
Goethe
plagiotropia
tradução

Como Citar

LOPES COSTA, A. C. Transfusões linguísticas: o percurso plagiotrópico na transcriação das duas cenas finais de Fausto II, por Haroldo de Campos. Veredas: Revista da Associação Internacional de Lusitanistas, [S. l.], n. 35, p. 88–100, 2021. DOI: 10.24261/2183-816x0535. Disponível em: https://revistaveredas.org/index.php/ver/article/view/682. Acesso em: 24 abr. 2025.

Resumo

Este artigo tem por objetivo realizar uma leitura, guiada pelo princípio plagiotrópico, da tradução das duas cenas finais do Fausto II, de Goethe, efetuada por Haroldo de Campos. O termo plagiotropia, oriundo do campo biológico, foi aproveitado pelo crítico, tradutor e poeta paulista para explicar o desenvolvimento da tradição literária, lançando sobre essa uma noção de plasticidade: a força motriz que permite o desenvolvimento e a conjugação das poéticas ao longo do tempo é também transversal (Campos, 2005). Aqui, do mesmo modo, o estudo dessa união de poéticas passa necessariamente pelo conceito haroldiano de transcriação: a tradução como criação e como crítica. Nesta esteira, focalizando a intertextualidade de Goethe, que se utiliza do tom dos coveiros hamletianos na cena "Enterramento", Campos, pautado pela noção de tradução como crítica, transcriará a cena através do diálogo com João Cabral de Melo Neto. O coro dos lêmures, em português, está imbricado pelos versos de Morte e vida severina intensificando, assim, o processo de ramificação oblíqua. Para efeito de compressão desse gesto tradutório, refletiremos sobre o que chamamos de dicção da pá, a concretude cabralina, objetivando compreender como Haroldo de Campos o aproveita em sua tradução. Em sua prática transluciferina, Campos adota a fissura da forma e do conteúdo para usurpar, pelas frestas do discurso, o trono do texto original.

https://doi.org/10.24261/2183-816x0535
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