Resumo
Esta pesquisa entende a corporeidade da palavra ao extravasar o silêncio, sobretudo quando impulsionada por engajamentos como liberar a natureza poético-narrativa, vazar o grito, destravar os gestos, desbravar os sentidos. O Slam, campeonato de poesia falada, de caráter autoral e natureza coletiva, é um poderoso meio de se elevar essa corporeidade, sobretudo porque, ao expressar as mazelas, os problemas, as injustiças, o racismo, o machismo, mas também as conquistas e as reflexões de vozes periféricas, ou longe do centro, a poeta-narradora corporifica tanto a matéria quanto as ideias. Assim que, na primeira parte do artigo é levada em conta a tentativa de silenciamento, como no caso da máscara de flandres usada por Anastácia no Brasil colonial do passado; para que num segundo momento a boca e o corpo da mulher negra rompam o silêncio por meio do Slam. No caso deste estudo, foram selecionadas autoras pretas brasileiras, participantes da cena dos Slams. Como teoria amparamo-nos em Kilomba (2019), Hooks (2019), D’Alva (2019), Collins (2019), Spivak (2010), Gonzalez (1984, 2020), entre outros nomes.
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