Da desumanização à criação: a revolução no antropoceno em A nossa alegria chegou, de Alexandra Lucas Coelho
Imagem da capa: Mural de Ruben Zacarias no Parque Nacional de Gorongosa - Moçambique, 2020.
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Palavras-chave

Alexandra Lucas Coelho
revolução
memória
utopia
Atlântico Sul

Como Citar

RENDEIRO, M. Da desumanização à criação: a revolução no antropoceno em A nossa alegria chegou, de Alexandra Lucas Coelho. Veredas: Revista da Associação Internacional de Lusitanistas, [S. l.], n. 33, p. 88–101, 2021. DOI: 10.24261/2183-816x0733. Disponível em: https://revistaveredas.org/index.php/ver/article/view/564. Acesso em: 29 mar. 2024.

Resumo

A nossa alegria chegou (2018) de Alexandra Lucas Coelho é um romance que se posiciona num horizonte de expectativas face ao impacto negativo da ação humana no planeta na era do Antropoceno. Alendabar, espaço totalmente criado ab novo e que não corresponde a nenhuma área geográfica identificável, reifica o impacto da destruição ambiental a que se soma a desumanização resultante de um capitalismo antropofágico e voraz. Esta desumanização concretiza-se, por um lado, na coisificação dos trabalhadores e, por outro lado, na incapacidade de quem detém o poder de sentir empatia pelo seu semelhante. Este artigo discute que, em A nossa alegria chegou, esta violência apenas pode ser combatida por outras formas de violência que são, em si mesmas, essencialmente regeneradoras. A destruição infligida em Alendabar constrói-se literariamente sobre memórias da exploração, do colonialismo e da opressão que estão presentes na experiência do Sul Global, desenhado e intuído a partir da linha do equinócio. Nas reminiscências de visões ancestrais e de experiências de saberes vividos no sul, resgata-se o valor humano expresso em toda a sua plenitude através de uma revolução radical e violenta, mas regeneradora sob memória simbólica da antropofagia ritualística. Eduardo Viveiros de Castro (2002) afirmou que a antropofagia de Oswald de Andrade é uma reflexão metacultural que produziu uma teoria verdadeiramente revolucionária. Em A nossa alegria chegou, é através das imagens dos corpos devorados e libertos que se chega à ressignificação do antropos como parte da utopia do amor físico, real e inteiro.

https://doi.org/10.24261/2183-816x0733
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Referências

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