Resumo
Neste artigo discute-se a obra Meu corpo, minha prisão: Autobiografia de um transexual, de Lorys Ádreon (1985), a partir do reconhecimento de que se trata de uma escrita de cárcere. Isso porque, embora a autora não tenha tido a experiência do encarceramento físico numa instituição prisional, desde a mais tenra idade reconhece-se prisioneira de uma compulsoriedade identitária que é reforçada pelos mecanismos de censura e perseguição do Estado brasileiro e seus dispositivos de poder, no contexto da ditadura civil-militar, o que lhe impede de viver livremente como se autorreconhece, uma mulher. A escrita-testemunho realiza-se, como se demonstrará, de modo estratégico pela estética intertextual com o romance oitocentista alencariano, uma vez que ao escrever sobre a sua relação afetiva com o indígena cisheterossexual Oitameno, o faz tanto como comprovação de sua feminilidade, porque objeto do amor romântico e idílico, como pelo pleito a uma outra nação possível para o Brasil, que se comprova, no contexto de sua publicação, um projeto inviável.
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Copyright (c) 2023 Leocádia Aparecida Chaves, Linda Maria de Jesus Bertolino