Resumo
Integrado na coletânea Serão inquieto (1910), de António Patrício, o conto "Suze" tem sido unanimemente considerado como uma obra-prima do género. Neste artigo, são, num primeiro momento, examinadas as estratégias de composição do retrato da cocotte, protagonista do conto, correlacionando-as com a mitologia contrapolar do feminino que a literatura finissecular ajudou a difundir. De seguida, propõe-se o confronto da narrativa de Patrício com a sua adaptação cinematográfica por Manoel de Oliveira que, no filme Inquietude (1998), o converte numa das histórias de um tríptico narrativo. Apesar do que manifestamente as afasta, nas cocottes de Patrício e de Oliveira torna-se ostensiva uma idêntica pulsão de autoencenação que se traduz numa contaminação dramática tanto do conto, como do filme.
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